Jornais locais dão lugar a sites alimentados por computador

quinta-feira, 16 de abril de 2009 ·

Claire Cainn Miller e Brad Stone

Se seu jornal local falir, o que substituirá sua cobertura? Talvez será um pacote de informações sobre seu bairro, ou até sua quadra, montado por um computador.

Algumas empresas iniciantes da web estão criando os chamados sites de notícias hiperlocais, que possibilitam que as pessoas confiram de perto o que está acontecendo ao seu redor, geralmente sem o envolvimento de jornalistas tradicionais.

Os sites, como EveryBlock, Outside.in, Placeblogger e Patch, coletam links para artigos e blogs, e costumam complementá-los com dados do governo local e outras fontes. Eles permitem que um visitante saiba sobre uma prisão que ocorreu a uma quadra de distância, a venda de uma casa no final da rua e resenhas sobre restaurantes próximos.

Empresas de internet têm tentado desenvolver tais sites há mais de uma década, em parte como uma maneira de atrair anunciantes locais para a web. Mas a noção de notícias personalizadas ganhou maior urgência quando alguns jornais, como o Rocky Mountain News e o Seattle Post-Intelligencer, fecharam as portas.

O novo negócio "está em um período difícil agora, entre o que foi e o que será," disse Gary Kebbel, diretor do programa de jornalismo da Knight Foundation, que já apoiou 35 experimentos locais na web. "Nossa democracia se baseia na geografia e acreditamos que a informação local seja uma necessidade central para nossa democracia sobreviver."

A EveryBlock, uma empresa iniciante formada por seis pessoas em um escritório de Chicago com vista para os barulhentos trilhos do trem, está tecendo esse futuro hiperlocal em uma cidade de cada vez. Apoiada por uma doação de US$ 1,1 milhão da Knight Foundation, a empresa criou sites para 11 cidades americanas, incluindo Nova York, Seattle, Chicago e São Francisco.

Os sites são recheados de links para artigos de notícias e postagens de blogueiros locais, junto a dados de governos municipais, boletins criminais, inspeções a restaurantes e avisos sobre construções em estradas e gravações de filme. (O New York Times tem uma parceria com a EveryBlock para ajudar os leitores da cidade de Nova York a encontrar notícias sobre seus políticos eleitos.)

Na semana passada, a página da EveryBlock de Adrian Holovaty, fundador da empresa, mostrou que a polícia havia respondido a um chamado sobre agressão doméstica a duas quadras de sua casa e que um estabelecimento gastonômico de sanduíches a quatro quadras de lá havia sido reprovado pela inspeção sanitária da cidade.

"Temos uma definição muito liberal do que é notícia. Acreditamos que seja algo que acontece em sua vizinhança," disse Holovaty, 28, que trabalhou na equipe de tecnologia do Washington Post antes de criar a EveryBlock há dois anos.

Em alguns aspectos, o ambiente atual é propício para esses novos empreendimentos. Nos últimos anos, blogs de bairro se multiplicaram ao redor do país, fornecendo aos sites conteúdo gratuito e pronto para virar link. Além disso, novas ferramentas, como técnicas avançadas de busca e celulares com GPS, ajudaram os sites a descobrir quais artigos mostrar para quais leitores e em quais bairros.

Diferente da maioria das empresas hiperlocais iniciantes, a Patch, sediada em Nova York, contrata repórteres de verdade. A empresa foi concebida e financiada por Tim Armstrong, o novo chefe-executivo da AOL, após ele se dar conta da escassez de informação online sobre Riverside, Connecticut, onde reside. A Patch criou sites para três cidades de Nova Jersey e planeja expandir para outras dezenas de cidades até o final do ano.

Um jornalista em cada cidade vai até reuniões de diretoria em escolas e cafeterias com um laptop, um cartão wireless e uma câmera. A Patch também solicita conteúdo dos leitores, pega artigos de outros sites e os complementa com listas de eventos, oportunidades de trabalho voluntário, diretórios de negócios e listas de informações locais como leis de reciclagem.

"Acreditamos que exista atualmente uma carência na quantidade, qualidade e acesso à informação no âmbito da comunidade, uma função, infelizmente, de todos os principais jornais de metrô em dificuldade que estão tirando de circulação tiragens diárias de muitas comunidades," disse Jon Brod, co-fundador e chefe-executivo da Patch. Este mês, a página principal da Star-Ledger, sediada em Newark, Nova Jersey, se referiu duas vezes a artigos originais da Patch.

A Outside.in não publica conteúdo original. A empresa reúne artigos e postagens de blogs, rastreando neles pistas geográficas, como o nome de um restaurante, ou palavras indicativas, como "em" ou "perto." Um aplicativo do iPhone permite que os usuários leiam artigos sobre eventos ocorrendo em um raio de 300 metros de onde estiverem localizados. A Outside.in, com sede no Brooklyn, Nova York, licencia feeds de links para grandes sites de notícia que desejam aprofundar sua cobertura local, como o da afiliada de Chicago da NBC.

Firmas de capital de risco investiram US$ 7,5 milhões na empresa, em parte apostando que ela poderia conseguir acordos com jornais para que suas equipes de venda pudessem oferecer anúncios impressos e na web focados em bairros.

Até agora, os sites hiperlocais tiveram apenas um sucesso limitado na venda de anúncios. Alguns aceitaram o custo de se usar uma equipe de vendas para chegar a negócios pequenos que podem não saber nada sobre anúncios online.

Um problema é que o número de leitores para cada página focada em um bairro é inerentemente pequeno. "Ao fatiar mais e mais, ficamos com um público cada vez menor," disse Greg Sterling, analista que acompanha o mercado hiperlocal há uma década. "Os anunciantes querem esse tipo de alvo, mas também querem chegar a mais pessoas, por isso o paradoxo."

Mesmo assim, muitos pequenos negócios nunca anunciaram fora das páginas amarelas locais e são um mercado de anúncios online não explorado, cujo valor deverá dobrar para US$ 32 bilhões até 2013, disse Peter Krasilovsky, diretor de programa do Kelsey Group, que estuda a mídia local.

Talvez um problema ainda maior seja a necessidade de conteúdo de confiança e alta qualidade. A informação em muitos desses sites por vezes ainda parece lamentavelmente incompleta. Nos boletins criminais da EveryBlock, por exemplo, faltam detalhes do que aconteceu. Links para artigos de notícias escritas por profissionais no Outside.in são misturados a postagens de blogs triviais e às vezes irrelevantes.

Isso levanta a questão sobre o que esses sites hiperlocais farão se os jornais, principal fonte de informação confiável, falirem. "Eles contam com os dados de outras fontes, por isso não podem funcionar se as organizações de notícia desaparecerem," disse Steve Outing, que escreve sobre mídia online para a Editor & Publisher Online.

Mas muitos empreendedores hiperlocais dizem que estão contando com a proliferação de blogs independentes e pequenas empresas de jornalismo locais para continuarem fornecendo conteúdo. "Em muitas cidades, a cena local do blog é tão rica e profunda que até mesmo se um jornal desaparecer, ainda haverá muita coisa para publicarmos," disse Holovaty, da EveryBlock.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times

Fonte: www.terra.com.br

0 comentários:

Receba Atualizações

RECEBA ATUALIZAÇÕES DO BLOG DIRETO NO SEU E-MAIL:

Delivered by FeedBurner

Twitter

Duvidas e Recados

Tradutor

Parceiros Top

Leitores