Vale do Silício não tem vagas para especialistas em emprego

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009 ·

Miguel Helft

É difícil imaginar alguma técnica de procura de emprego que Alexis Lovell não domine. Como especialista em recrutamento para empresas de tecnologia do Vale do Silício, e antes disso para o setor de varejo, ela aconselhou candidatos sobre preparação de currículos, apresentação pessoal e técnicas de entrevista, nos últimos oito anos. As estratégias de networking e como usar bem a internet em busca de emprego são ferramentas essenciais de sua profissão.

Mas nada disso tem ajudado uma candidata que precisa muito de emprego agora: Lovell mesma.

Desempregada desde a metade de novembro, quando a Plantronics demitiu seus cinco especialistas em recrutamento, Lovell contatou 400 gerentes de pessoal e executivos de tecnologia conhecidos, por e-mail, e telefonou para outros tantos.

"Ninguém se interessou", ela disse, durante um almoço de profissionais de recursos humanos que aconteceu este mês em Mountain View, não muito longe dos edifícios do Google, Yahoo, Microsoft e outros gigantes da tecnologia. Quando não está procurando emprego, Lovell dedica a maior parte de seu tempo à sua filha de dois anos, que ela tirou da creche para economizar nas despesas.

"Estou tentando aproveitar o melhor que posso o tempo que tenho em casa", disse. "E evitar compras", ela acrescenta, rindo.

A maioria dos cerca de 90 profissionais que compareceram ao almoço viviam situações semelhantes. O almoço mensal, que já está em seu 11° ano, por muito tempo serviu como fonte de dicas de emprego para os profissionais do setor, e muitos dos presentes na semana passada tinham ao menos alguma esperança de indicações. Mas o que encontraram foram velhos amigos, colegas desempregados e palavras de encorajamento. Também receberam algumas dicas sobre como adaptar suas capacidades a outros ramos, e uma oferta de planos de saúde de custo acessível.

"Ver tanta gente na mesma situação foi bem difícil", disse Lovell.

Não existe estimativa precisa quanto ao número de profissionais de recrutamento no Vale do Silício, e dos índices de desemprego entre eles. Mas entrevistas com mais de duas dúzias de profissionais da área sugerem que o segmento foi um dos severamente atingidos pela recessão, tanto aqui quanto no restante do país.

Dezenas de profissionais de recrutamento foram demitidos nos últimos meses, e não há abertura de vagas novas para esse ramo, no momento. As que surgem atraem até 500 candidatos. E os honorários dos profissionais de recrutamento, muitos dos quais trabalham como terceirizados, caíram em cerca de 50%.

"Os profissionais de recrutamento são como o canário na mina", disse John Moed, que modera um grupo online para profissionais de recursos humanos que tem 3,7 mil membros na região da Baía de San Francisco. "Quando as coisas vão bem, o passarinho canta e ninguém encontra recrutadores suficientes. Mas eles são os primeiros a ser cortados quando as coisas forem mal".

Primeiros, sem dúvida. Considerem o Google, uma empresa que em 10 anos jamais havia demitido funcionários devido à situação da economia. Em sua primeira rodada de cortes causados pela recessão, no mês passado, ela demitiu 100 profissionais de recrutamento.

A maioria dos profissionais do ramo no Vale do Silício trabalham como terceirizados, porém, e assim normalmente não há grande ruído quando perdem seus contratos. Não há anúncio de demissão; um contrato se encerra e simplesmente não é renovado. Antes de demitir os seus funcionários de recursos humanos, o Google já havia dispensado discretamente um pequeno exército de recrutadores terceirizados em todo o mundo, um corte que, de acordo diversas pessoas familiarizadas com a empresa, envolveu centenas de pessoas.

E como terceirizados, muitos dos profissionais de recrutamento sem trabalho não têm direito a benefícios-desemprego.

Os profissionais de recrutamento jamais fizeram parte da elite do Vale do Silício. Essa distinção fica reservada aos engenheiros, aos empresários seriais, aos designers de produtos, aos inovadores de marketing, aos profissionais de capital para empreendimentos que financiam as empresas iniciantes.

Mas os recrutadores há muito desempenham papel vital como infantaria nas guerras do Vale do Silício pelos talentos. Quando empresas emergentes da Web 2.0 como o Facebook, YouTube e LinkedIn concorrem entre si e com empresas mais estabelecidas como o Google e o Yahoo pelos talentos, os profissionais de recursos humanos estão em forte demanda. Os honorários sobem, e os bons recrutadores podem faturar até US$ 100 por hora, o que significaria um salário anual de US$ 200 mil para trabalho em período integral. (A maioria dos entrevistados do setor disse que, agora, se consideraria afortunada se encontrasse trabalho com pagamento de entre US$ 30 e US$ 50 por hora.)

Lovell, cujo marido ainda está empregado, disse que ainda não perdeu as esperanças. "Estou tentando me manter positiva", ela afirmou. Mas viver com um salário só em uma casa onde havia dupla renda não foi um ajuste fácil.

"Estamos sendo ultrassensíveis, e passamos o tempo todo muito conscientes do quanto estamos perto do limite", disse Lovell. "Foi uma tremenda perda para nós, a perda daquela renda".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

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