Era dos netbooks muda modelo de negócios em tecnologia

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009 ·

Brad Stone e Ashlee Vance

A crise mundial de crédito pode ter causado um declínio nos gastos dos consumidores e empresas, e isso pode estar prejudicando as gigantes da tecnologia. Mas enquanto as empresas dominantes de tecnologia batalham para sair da crise, podem estar atribuindo a culpa pelos seus problemas menos a Wall Street do que a pessoas como David Title.

Title, 35, gerente de novas mídias em uma produtora de cinema em Nova York, dispensou sua assinatura de TV a cabo e agora assiste TV online - de graça. Quando decidiu comprar um laptop novo para sua namorada, recentemente, deixou de lado as máquinas com mais recursos e optou por um simples Asustek Eee, um laptop de US$ 200 que se enquadra em uma nova categoria conhecida como "netbook".

"Nós chegamos a um daqueles momentos na história da tecnologia em que existem alternativas gratuitas e de baixo custo fáceis de usar e confiáveis a ponto de permitir a transição", disse Title. "E há a vantagem adicional de economizar algum dinheiro".

O Vale do Silício está sentindo cada vez mais que o recuo econômico pode causar mudanças maiores do que uma compressão de lucros. O otimismo inerente da região é forte demais para que as pessoas imaginem outro cenário que não um retorno do setor de tecnologia à sua plena força.

Mas o medo é que consumidores como Title, e empresas que operem com a mesma mentalidade de corte de custos, causem erosão nas elevadas margens de lucros do setor de tecnologia, e permitam que certas tecnologias e empresas ganhem ímpeto em comparação com as demais.

Steve Ballmer, o geralmente confiante presidente-executivo da Microsoft, expressou esse temor na semana passada ao anunciar o primeiro grande corte de funcionários na história da empresa. "Nosso modelo não leva em conta uma recuperação rápida", ele disse. "Nosso modelo é esperar a queda e a reacomodação posterior, mas com uma redução da atividade econômica".

Isso já aconteceu no passado. O estouro da bolha da internet no começo da década ajudou a derrubar empresas que um dia tiveram excelente desempenho, como a Sun Microsystems e a America Online, mas prepararam o terreno para uma nova geração de potências da internet como o Google e outras empresas criadoras de software inovador para uso online, como a Salesforce.com. Essas empresas cresceram porque encontraram maneiras eficientes de desafiar o status quo.

A recessão do começo dos anos 90 causou uma queda livre de cinco anos de duração na IBM, então líder do setor de tecnologia, mas permitiu a ascensão da Microsoft, da Compaq, posteriormente adquirida pela Hewlett-Packard, e da Dell à liderança da tecnologia. O Vale do Silício pode ser um poucos lugares em que as empresas continuam conscientes das idéias de Joseph Schumpeter, um economista nascido na Áustria cuja especialidade eram os ciclos de negócios, na primeira metade do século 20. Ele afirmava que o ímpeto do capitalismo era propiciado pela "destruição criativa". A ascensão e queda das empresas gerava inovação e, ao final do processo, tornava a economia mais forte.

As recessões "podem fazer com que as pessoas pensem mais sobre o uso efetivo de seus ativos", disse Craig Barrett, que está se aposentando como presidente do conselho da Intel e viveu 10 desses ciclos de queda em sua longa carreira. "Nos bons momentos, as pessoas podem se descuidar um pouco e perder o foco quanto à eficiência. Nos maus momentos, elas são forçadas a descobrir se existe uma tecnologia" capaz de ajudá-las.

Assim, que vai subir, quem vai descer e quem vai sair do jogo, desta vez?

O sistema operacional Windows, o baluarte da Microsoft, parece vulnerável depois de duas décadas de domínio. A receita da empresa com o Windows caiu, pela primeira vez na história, durante o trimestre final de 2008. A popularidade do sistema operacional de fonte aberta Linux, que substitui o Windows em muitos netbooks, forçou a Microsoft a baixar os preços de seu software para concorrer.

Os processadores de alta potência da Intel também estão sob ataque. A receita da companhia caiu em 23% no trimestre passado, o maior declínio desde 1985.

Enquanto isso, tecnologias experimentais mas de custo mais baixo, como netbooks, serviços de software disponíveis via internet (conhecidos como computação em nuvem) e programas de virtualização, que permitem que as empresas operem mais software em cada servidor físico, estão em ascensão.

Os consumidores econômicos como Title podem ser a principal influência imediata sobre o setor de tecnologia, especialmente se mais pessoas considerarem a possibilidade de deixar de lado suas assinaturas de cabo para assistir a TV online, ou cancelarem suas assinaturas de telefonia fixa e passarem a usar apenas celulares e serviços de telefonia via internet como o Skype.

Muitos consumidores parecem prontos a abandonar de vez os dispendiosos computadores de mesa. Os analistas antecipam que as vendas de computadores caiam em 2009, por apenas a segunda vez em duas décadas, e os computadores de mesa devem registrar queda ainda maior do que a sofrida em 2007 e 2008.

O único ponto positivo do setor são os netbooks. Os analistas do grupo de pesquisa Gartner dizem que os embarques desse tipo de computador cresceram a 4,4 milhões de unidades no terceiro trimestre de 2008, ante apenas 500 mil unidades no primeiro trimestre. Os analistas dizem que as vendas dessa categoria de computador podem dobrar este ano, apesar da profunda recessão mundial.

As empresas também começaram a examinar de que sistemas podem prescindir e que métodos diferentes de trabalho podem adotar, e suas escolhas alterarão o competitivo e lucrativo panorama da computação empresarial.

Empresas como a Arista Networks recorrem a software online para boa parte de seus processos - e-mail e processamento de documentos online fornecidos pelo Google e serviços de software de vendas e produção fornecidos pela Netsuite.

Os custos são 80% menores do que os da tecnologia tradicional, diz Jayshree Ullal, presidente-executiva da Arista. Ela crê que isso esteja se tornando tendência. "Acho que 80% das novas empresas de tecnologia e das companhias de pequeno e médio porte estejam fazendo como nós", afirma.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

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