Computadores do FBI têm maior banco mundial de dados de DNA

segunda-feira, 18 de maio de 2009 ·


Solomon Moore

O Serviço Federal de Investigações (FBI) dos Estados Unidos estabeleceu seu primeiro laboratório criminológico em 1932, em um salão adaptado em Washington. A operação envolvia apenas um funcionário e o equipamento utilizado incluía uma pia, um microscópio e uma única peça de equipamento exótico: um helixômetro, uma espécie de sonda amplificadora iluminada usada na inspeção de marcas nos canos de armas de fogo.

O atual laboratório de criminologia do FBI é uma torre reluzente que avulta por sobre as matas de uma base dos Fuzileiros Navais em Quantico, 80 km a oeste de Washington. Aqui, cerca de 600 pessoas processam centenas de milhares de indícios ao ano, em unidades especializadas que cuidam de explosivos, impressões digitais, balística, toxicologia e outras disciplinas das ciências forenses.

E em uma pequena sala sem janelas fica abrigada a mais poderosa das ferramentas de tecnologia forense de que o FBI dispõe: um rack que abriga diversos consoles de computadores Dell. "Sempre que as pessoas vêm a essa sala, saem parecendo pouco impressionadas", diz uma das técnicas do laboratório.

Mas as máquinas abrigam o Sistema Nacional de Índices de DNA, um banco de dados com 6,7 milhões de perfis genéticos que representa o maior repositório mundial de informações forenses sobre DNA. Sob uma lei federal de 2005, o banco de dados continuará a ser ampliado com a inclusão de dados de DNA de criminosos condenados, e também incluirá perfis genéticos de pessoas que tenham sido detidas sem serem condenadas e de imigrantes prisioneiros - o que deve elevar o total de perfis abrigados no sistema em 1,3 milhão até o final de 2012.

Desde que foi estabelecido, em 1994, o banco de dados sobre DNA ajudou a identificar milhares de suspeitos, e provas relacionadas a DNA inocentaram mais de 200 pessoas condenadas indevidamente. Os funcionários de agências policiais norte-americanas dizem esperar que um banco de dados mais amplo os ajude a resolver mais crimes, novos e antigos, como o caso de John Thomas Jr. Ele recentemente foi vinculado, por DNA, a dois homicídios em Los Angeles que estavam em aberto há décadas, e a polícia acredita que possa ter estado envolvido em diversos outros assassinatos.

Mas manter o ritmo de expansão dos bancos de dados de DNA é um desafio sério para a agência, que vem procurando maneiras de acelerar o processamento de indícios de DNA. Até 2007, o Departamento da Justiça estimava que o material genético não catalogado era da ordem de entre 600 mil e 700 mil amostras.

Em 2002, o FBI processava cerca de cinco mil amostras de DNA ao ano. Com a ajuda de novos sistemas robotizados, os analistas do laboratório de criminologia planejam, processar 90 mil amostras mensais, em 2010. Apenas cerca de 10% dos casos criminais utilizam análise de DNA, mas ela é muito mais precisa do que outras técnicas: os cientistas estimam que a possibilidade de um falso positivo seja da ordem de um por quatrilhão.

Antes que o FBI automatizasse parte considerável de seu sistema de processamento de DNA, as análises genéticas eram dispendiosas e demoradas, e continuam a sê-lo, na maioria dos demais laboratórios de criminologia.

A análise forense de DNA em geral começa fora do laboratório, com suspeitos, prisioneiros e criminosos condenados fornecendo amostras de DNA extraídas do céu da boca. Ocasionalmente a análise de DNA é conduzida como parte de uma investigação criminal ativa, com a coleta de fragmentos de ossos e tecidos, sêmen ou sangue na cena do crime, pelos investigadores encarregados de um caso. O FBI também aceita amostras que permitem analisar o DNA de pessoas desaparecidas, usando material extraído de artefatos como escovas de cabelo ou de dentes.

Nos Estados Unidos, os perfis de DNA forense se concentram em 13 sequências de código genético encontradas em locais específicos do cromossoma humano. Muitas dessas sequências correspondem a traços genéticos tais como cor de cabelo e olhos, ou se relacionam a determinadas condições médicas. Mas o FBI selecionou os 13 locais de comparação - conhecidos por nomes como CSF1PO, FGA e TPOX - por sua raridade.

Ao recolher "DNA residual" como esse, que não apresenta características genéticas conhecidas, as agências policiais podem argumentar que não estão violando os direitos de privacidade. "Não existe nada que revelaria quaisquer características médicas ou físicas", disse Jennifer Luttman, que opera o programa de coleta de DNA de criminosos.

Uma recente auditoria sobre o programa, no entanto, constatou que os avanços na disciplina da genotipia poderiam conectar traços identificáveis a perfis do FBI, o que representaria uma violação aos direitos de privacidade.

Mais à frente no mesmo corredor que abriga os computadores do Sistema Nacional de Índices de DNA, uma máquina está processando uma chapa que contém 96 pequenas depressões, cada qual abrigando uma amostra de DNA. Muitos laboratórios ainda fazem esse trabalho manualmente, amostra por amostra. O novo sistema automatizado em uso no FBI pode processar até duas mil amostras por máquina a cada dia. Cada amostra é limpa, secada e replicada por meio de um processo conhecido como PCR, ou reação em cadeia de polimerase. Cultivar milhões de cópias de uma amostra de DNA torna mais fácil sua leitura.

Em um segundo processo, conhecido como eletroforese capilar, o DNA é banhado em uma solução e recebe uma carga elétrica que o torna fluorescente e assim visível a um microscópio laser. As amostras são estendidas por meio de um tubo da finura de um fio de cabelo, e o microscópio avalia o DNA e mapeia a localização de alelos repetidos. Os alelos recebem uma designação numérica de dois algarismos para cada uma das 13 posições de comparação genética.

Quando restos humanos se decompõem, o DNA regular também acompanha essa decomposição. Nesses casos, o laboratório pode usar uma outra forma de material genético, o DNA mitocôndrico. Mas o DNA mitocôndrico só é transmitido pela mãe, o que o torna menos útil na identificação de suspeitos desconhecidos.

O código é registrado no banco de dados de DNA federal e no sistema combinado de índices de DNA, um software desenvolvido pelo FBI que permite que laboratórios de criminologia troquem dados e comparem perfis genéticos entre diferentes jurisdições locais, estaduais e federais. Caso os 13 pontos de comparação batam com os de um perfil já inserido no banco de dados, o laboratório de criminologia notifica a agência que enviou a amostra; essa agência pode então tentar localizar a pessoa identificada por aquele DNA e fazer uma prisão.

Além de acelerar o processo de catalogação do DNA, o sistema robotizado também ajuda a evitar erros. Contaminação e erros de identificação foram documentados em pelo menos cinco Estados; quanto menos gente for necessária para processar amostras de DNA, melhor, disse Richard Guerrieri, o diretor do laboratório forense de DNA do FBI.

A despeito dessas melhoras, dirigentes do FBI ainda esperam enfrentar dificuldades para se manterem informados sobre os milhões de novas amostras que devem chegar ao laboratório. Funcionários federais afirmam que, quando o Congresso ordenou a expansão do banco de dados, não forneceu verbas suficientes.

"Nós primeiros lidávamos apenas com criminosos federais, mas depois passamos a trabalhar com todos os detentos do país, e agora com detentos estrangeiros", diz Robert Fram, o agente especial que comanda a divisão de laboratórios do FBI. "Não sabemos até que ponto crescerá o número de perfis registrados".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

Fonte: www.terra.com.br


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