Internet é ferramenta para organizar protestos na Moldávia

quinta-feira, 9 de abril de 2009 ·

Ellen Barry

Uma multidão de mais de 10 mil jovens moldávios surgiu aparentemente do nada, na terça-feira, para protestar contra os líderes comunistas da Moldávia, saqueando edifícios do governo e enfrentando a polícia.

A multidão de jovens refletia a profunda divisão geracional que se desenvolveu na Moldávia, e os manifestantes usaram as ferramentas de sua geração, convocando os participantes do protesto por meio de mensagens de texto, do site de redes sociais Facebook e do Twitter, um serviço de microblogs.

Os manifestantes criaram um tag aberto a buscas no Twitter, convocando os moldávios a aderir e propelindo os eventos nesse minúsculo país ex-soviético a uma lista de tópicos de alta popularidade no Twitter, o que permite que pessoas em todo o mundo acompanhem a situação.

Os jovens vêm cada vez mais usando a internet para mobilização política; celulares e mensagens de texto ajudaram a adensar as fileiras das manifestações da Ucrânia em 2004 e da Belarus em 2006.

Na Moldávia, depois que centenas de relatos em primeiro mão inundaram a web via Twitter, os serviços de internet na capital, Chisinau, foram abruptamente cortados.

Por volta da noite de terça-feira, a sede do governo havia sofrido pesados danos e dezenas de pessoas estavam feridas.

Não havia sinal de que as autoridades cederiam a quaisquer exigências dos manifestantes, e o presidente Vladimir Voronin denunciou os organizadores como "fascistas embriagados de ódio".

Mas Mihai Fusu, 48, um diretor de teatro que passou boa parte do dia entre os manifestantes, diz acreditar que um grande reservatório de energia política tenha encontrado espaço na vida pública.

"A Moldávia é como um recipiente selado, e os jovens querem mais acesso à Europa", ele disse. "Todo mundo sabe que a Moldávia é o menor, mais pobre e mais miserável dos países. E os jovens conversam sobre seu desejo de liberdade, de integração com a Europa e de uma vida diferente".

A causa imediata dos protestos foram as eleições parlamentares do domingo, nas quais os comunistas obtiveram 50% dos votos, o bastante para permitir que escolham um novo presidente e emendem a constituição. Ainda que a vitória dos comunistas fosse esperada, seu desempenhou superou as projeções, e líderes oposicionistas acusaram o governo de manipular a votação.

Observadores eleitorais da União Européia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) aceitaram a votação como lícita, ao menos provisoriamente, mas expressaram certa preocupação quanto à interferência das autoridades. No entanto, os resultados causaram profunda decepção na capital, onde os candidatos comunistas saíram derrotados nas mais recentes eleições municipais.

"Havia uma forte expectativa de mudança no ar, mas isso não aconteceu", disse Matti Sidoroff, porta-voz da missão da OCSE à Moldávia.

Por trás do confronto existe uma divisão na população da Moldávia. O colapso da União Soviética trouxe benefícios a boa parte da Europa Oriental, mas na Moldávia ele resultou em declínio econômico e instabilidade. Em 2001, os cidadãos irados optaram por devolver os comunistas e seus programas sociais ao poder.

Mas a Moldávia continua desesperadamente pobre, e os jovens fogem para o exterior a fim de obter trabalho. Eles vêem o Ocidente como melhor caminho para a estabilidade econômica e desafiaram o governo de Voronin ao defender uma maior integração com a Romênia.

A crise financeira mundial pôs fim às oportunidades de emprego no exterior, e muitos dos jovens voltaram a Chisinau, onde viram seus horizontes subitamente mais estreitos, diz Carroll Patterson, que está concluindo sua tese de doutorado sobre as mudanças econômicas na Moldávia.

"Não classificaria o movimento necessariamente como anticomunista", disse Patterson. "A divisão é na verdade geracional. Não é um confronto entre comunistas e a oposição, mas entre avôs e netos".

Os protestos aparentemente começaram na segunda-feira, quando os organizadores de dois movimentos juvenis, Hyde Park e ThinkMoldova, começaram a convocar as pessoas para um evento cujo tema era "eu não sou comunista". Natalia Morar, uma das líderes do ThinkMoldova, descreveu o esforço em seu blog como "uma reunião de seis pessoas que durou 10 minutos, algumas horas de trabalho difundindo a informação pelas redes, Facebook, blogs, serviços de mensagem e e-mails".

"E com isso, 15 mil jovens saíram as ruas!", ela escreveu.

Na manifestação de segunda, os participantes se dispersaram pacificamente. Mas na terça os protestos escaparam ao controle, e imagens de TV mostraram manifestantes apedrejando as janelas do Parlamento e do palácio presidencial, saqueando móveis e ateando fogo a objetos. A polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar a multidão, mas os incêndios continuam grassando ao longo da noite.

Evgeny Morozov, especialista em tecnologia e política no Open Society Institute, em Nova York, um grupo que trabalha em cooperação com movimentos democráticos em todo o mundo e está ativo na antiga União Soviética e na Europa Oriental, disse que o Facebook e o Twitter aparentemente desempenharam forte papel nos protestos.

"Ninguém esperava uma escala tão imensa", disse. "Não conheço outros fatores que possam responder por isso".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

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