Google e gravadoras querem downloads grátis para evitar pirataria

quinta-feira, 9 de abril de 2009 ·

David Barboza

Será que as grandes gravadoras internacionais podem ganhar dinheiro distribuindo canções gratuitamente no mercado da China, onde impera a pirataria? Bem, essa é certamente sua esperança. Em 30 de março, as maiores gravadoras mundiais - dentre elas, EMI, Warner Music, Universal Music e parte do grupo Vivendi -, anunciaram que procurariam obter lucros no mercado de música da China ao colaborar com o Google e por meio da oferta de downloads grátis no país.

O Google, que não tem planos de oferecer esse serviço em outros mercados, espera atrair tráfego e conquistar novos anunciantes ao permitir que os chineses usem seu serviço de busca para procurar por downlods gratuitos de música. As gravadoras dizem que em lugar de ganhar dinheiro com os downloads em si, elas compartilhariam a receita publicitária gerada pelas buscas com a parceria chinesa do Google, uma companhia chamada Top100.cn.

A parceria, consideram analistas, pode ajudar a determinar o futuro da distribuição de conteúdo valioso na China, que já superou os Estados Unidos como maior mercado mundial de internet. A China vem sendo até agora um dos pólos mundiais da pirataria e do download sem pagamento de música, filmes e até programas de televisão.

De acordo com a International Federation of Phonographic Industries (IFPI), a organização setorial das gravadoras internacionais, 99% da música baixada na China envolve violação de direitos autorais. Os processos das gravadoras e as promessas do governo chinês quanto a adotar medidas para reprimir a pirataria na internet fracassaram em desestimular essas práticas.

Mas agora, o setor fonográfico está afirmando que, ao menos na China, considera possível conviver com a distribuição gratuita de música. "O nível de publicidade online na China é bastante maduro, de modo que estamos dispostos a tentar essa alternativa", diz Sandy Monteiro, vice-presidente sênior do Universal Music Group.

O acordo cria uma poderosa combinação ¿ o maior serviço mundial de busca e publicidade online e as potências da indústria da música -, e o objetivo da manobra é tirar da liderança no mercado chinês o serviço de buscas Baidu, uma empresa local cujo tráfego cresceu ao menos em parte por oferecer links para sites que oferecem downloads de música pirata.

As gravadoras mundiais abriram processo contra a Baidu, em um esforço para forçar a empresa a remover os links para sites de música pirateada de seus resultados de buscas. Mas a Baidu, que não quis comentar para este artigo, afirmou que opera simplesmente como provedor de buscas e que não está envolvida com pirataria.

Com seu popular serviço de buscas, a Baidu conseguiu se manter bem adiante do Google no mercado chinês, onde detém cerca de 65% de participação no segmento de buscas na Web. Mas os analistas afirmam que o Google pode ser significativamente beneficiado por sua nova parceria musical.

"A manobra é uma decisão inteligente do Google", disse Ma Xiushan, vice-diretor geral da Sociedade Chinesa de Propriedade Intelectual, em Pequim. "O Google compreendeu a realidade: é preciso abrir o acesso aos downloads se a empresa deseja enfrentar de igual para igual os seus concorrentes chineses e atrair mais usuários".

Os executivos do Google afirmaram ter decidido agir porque uma função de busca de música era um dos poucos elementos de que a companhia não dispunha na China. De acordo com números do governo, cerca de 84% dos quase 300 milhões de usuários de internet na China baixam música na web, em geral para uso como ringtones em seus celulares.

O Google espera que ao oferecer música gratuita e de qualidade ¿ ou seja, reduzindo as preocupações dos consumidores quanto a vírus ou faixas defeituosas -, seja possível reduzir a vantagem da Baidu. Para o setor de música, que acredita ter perdido centenas de milhões de dólares devido à pirataria online, o acordo promete propiciar uma fonte constante de receita e pode também colocar pressão sobre a Baidu e outras empresas chinesas de internet para que passem a distribuir faixas musicais legítimas, sob o risco de serem excluídas de futuros acordos.

Mas nem todo mundo acredita que a idéia vá funcionar. "A decisão do Google quer dizer que a empresa vai queimar dinheiro para tentar enfrentar a vantagem da Baidu", disse Guo Chunlong, fundador do yobo.com, um site de música e entretenimento. "A divisão de receitas publicitárias com as gravadoras não é um modelo de negócios sustentável. Quantas visitas seriam necessárias para gerar o dinheiro que o Google e as gravadoras devem estar esperando?"

Os executivos do setor de música contestam essa interpretação. Mas afirmam que o modelo que está sendo adotado na China não servirá de exemplo para o resto do mundo. Segundo eles, diferentes regiões requerem abordagens diferentes ¿ em alguns casos, cobranças por downloads, em outros streams de música a pedido por um preço único de assinatura mensal, e em outros sistemas bancados por publicidade.

Na China, eles decidiram que a melhor solução seria um sistema bancado por publicidade. "A China era um mercado curioso", disse Monteiro, da Universal Music. "Tratava-se de um mercado no qual não conseguíamos entrada. E foi então que o Google nos abordou propondo esse modelo".

Erik Zhang, um dos fundadores do Top100.cn, disse que downloads gratuitos bancados por publicidade são apenas um dos estágios propostos para o acordo mais amplo proposto. Os parceiros anunciaram que podem ampliar suas ofertas por meio de pacotes VIP, entradas gratuitas para shows, passes para os bastidores e outros benefícios. Mas uma coisa está clara: a China e seus parceiros desejam limitar essa experiência à China.

Por exemplo, o site que permite acesso aos downloads está em chinês, e só permitirá downloads de endereços de internet localizados na China. Mas será que os espertos piratas chineses não serão capazes de baixar toda essa música e depois trocá-la ou vendê-la em outras partes do mundo, o que possivelmente solaparia o sistema?

Na semana passada, por exemplo, um usuário baixou uma faixa de música na China e a enviou facilmente a um amigo em Londres. As gravadoras dizem que os usuários podem tentar essa manobra, mas que medidas jurídicas e técnicas para dificultá-la estão sendo adotadas. "Nós certamente teremos de ficar vigilantes", disse Monteiro.

Tradução: Paulo Migliacci ME.

The New York Times

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