Jornalista conta em livro a história secreta do MySpace

segunda-feira, 23 de março de 2009 ·

Janet Maslin

Existe ao menos uma história que nunca foi contada no site MySpace, rede social irrestrita. É a trajetória caótica e cheia de ação do próprio MySpace. Agora, Julia Angwin, repórter de mídia e tecnologia do The Wall Street Journal, escavou prodigiosamente as obscuras práticas de negócio, o design, os acidentes afortunados e os tipos de personalidade limítrofe que deram as condições para o MySpace se conectar à psique dos americanos.

Sua tarefa é necessariamente intrincada. Mas, como o próprio site, o livro de Angwin, Stealing MySpace (ainda sem tradução em português), é acessível a qualquer um, exceto durante suas dissecações mais intensas sobre a execução das negociações. No geral, você não precisa saber diferenciar um portal de uma plataforma para acompanhar essa história dispersa e divertida.

Existem muitos livros sobre como estrelas da tecnologia conquistaram a riqueza no Vale do Silício. Stealing MySpace não é um deles. Não é uma narrativa com tímidos nerds de computador faturando bilhões por criar algoritmos perfeitos. Ao invés disso, o livro fala sobre negociantes traiçoeiros remendando planos inconcluídos, tentando artimanhas imprudentes, confiando em uma filosofia "faça rápido, conserte depois" e nunca se preocupando com as conseqüências.

Com o ambiente corporativo de Santa Monica e total falta de escrúpulos, segundo Angwin, o MySpace se encaixa no perfil de "uma companhia de mídia estilo Hollywood - onde pessoas loucas e criativas comandam o show e ninguém sabe ao certo o que faz um sucesso ou um fracasso".

O que os fundadores do MySpace sabem e exploraram com tanto sucesso é o valor do voyeurismo. É no site deles que qualquer um pode bisbilhotar anonimamente. Como todos os outros aspectos da fórmula vencedora do MySpace, essa característica evoluiu por acaso e então inesperadamente atingiu um nervo. O MySpace se baseou no site Friendster, mas observando que este irritava usuários ao não permitir impostores ou perfis falsos. E os Fakesters, como os impostores se apelidaram, estavam irritados a ponto de publicar um "Manifesto do Fakester", que tinha um grito de guerra: "Todo dia é Halloween".

Os fundadores do MySpace, Chris DeWolfe e Tom Anderson (que não quiseram conversar com Angwin), desapareceriam com a rigidez do Friendster e fariam seu próprio site como um parque de diversão em que todo dia é Halloween. Mas antes precisavam se preparar.

Não é fácil para Angwin expor os vários tentáculos da extremamente complicada história de suas empreitadas iniciais, mas ela captura a audácia de seus diretores. DeWolfe apareceu em uma festa de Natal "exatamente igual ao Hansel de Zoolander". Anderson era mais reticente e intenso. Ele demonstrou interesses iniciais em conhecimentos de hacker e pornografia asiática, e uma vez citou Nietzsche em uma acalorada resenha sobre um videogame de beisebol.

Angwin explica como DeWolfe e Anderson se conheceram enquanto trabalhavam para a Xdrive, empresa especializada em armazenagem de informação. Quando foram demitidos em 2001, eles abriram a ResponseBase, célebre por seus gostos chulos e total falta de escrúpulos - spams detestáveis e spywares estavam entre suas especialidades.

Após os Estados Unidos invadirem o Iraque e os militares criarem um maço de cartas com as imagens dos líderes iraquianos depostos, por exemplo, a ResponseBase vendeu falsificações e anunciou que suas "réplicas autênticas" das cartas tinham um acabamento laminado. A ResponseBase tinha ligações com a PayMe2Shop.com, LowerMyBills.com e, indiretamente, até com a velha estrela dos infomercials televisivos, o Veg-O-Matic.

A história de como a ResponseBase, na época afiliada à eUniverse, iniciou um site social que quase foi chamado de YoPeeps ou Comingle tem muitas reviravoltas, com toda a vasta série de oportunismos ponto-com que faz parte da ação. Foram os pequenos defeitos que tornaram o MySpace interessante, e que trazem resultado semelhante ao livro.

Por exemplo: o MySpace não tinha a intenção de permitir que os usuários espalhassem corações, glitter e carinhas sorridentes por suas páginas iniciais. Porém, quando o webiste trocou de linguagem de programação, a engenharia fajuta criou uma brecha que permitiu aos usuários inserirem seu próprio código. Sem essa falha, ele nunca teria conquistado as adolescentes.

Entre outros que foram seduzidos pelo MySpace estão Rupert Murdoch, cujas manobras bem-sucedidas para adquirir o site formam a parte mais vertiginosa do livro; aberrações, pessoas que o MySpace nunca tentou desencorajar; e Eliot Spitzer, que fez linha dura contra os truques com spywares que eram a especialidade de DeWolfe, apenas para ele mesmo acabar ligado ao MySpace, conectado a uma prostituta que tinha uma página no site.

Um dos factóides memoráveis do livro é a dificuldade para se desenvolver um programa que elimine imagens pornográficas (que podem ser ruins para o negócio se espantarem os anunciantes). Uma das primeiras versões desse programa de imagens confundiu um emaranhado de partes do corpo humano com uma torta de maçã.

Choques culturais
Além da história específica do crescimento explosivo do MySpace, o livro de Angwin oferece uma visão dos extremos choques culturais entre os diversos personagens envolvidos. Ela registra os locais que escolhiam para reuniões (de Starbucks a casas noturnas) e suas vestimentas floreadas. E ela entende as diferentes línguas faladas nesses mundos diferentes. De DeWolfe: "Queremos ser a MTV da internet". De Geoff Yang, investidor do Vale de Silício: "Esse cara tem uma visão que eu realmente posso comprar".

Stealing MySpace também apresenta o vasto e fascinante rol de oportunidades de negócio que foram criadas nesse ecossistema virtual (como diz Angwin) em um curto período de tempo. Por trás de uma página do MySpace existe um valioso código de computação. O design da página do MySpace criou uma "comunidade de layout". Existem caça-talentos da indústria pornô que monitoram as fotos mais quentes. (Afinal, as estrelas pornôs estavam entre os primeiros a adotar a tecnologia.)

Uma busca por amigos precisa de um algoritmo para decidir de quais amigos o usuário mais gostaria de ter notícias e quais temas seriam de interesse. Assim, o Facebook, concorrente mais forte do MySpace, criou um recurso que faria a tarefa. Com base nas evidências da história de Angwin, o Myspace não vai se preocupar com isso. O MySpace prefere se esquivar, dissimular, copiar, fraudar ou improvisar.

Stealing MySpace - The Battle to Control the Most Popular Website in America
Autora: Julia Angwin
Nº de páginas: 371
Editora: Random House
Preço: US$ 27

The New York Times

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