Câmera minimalista muda de dono mas continua a valer muito

sábado, 21 de março de 2009 ·

Ashlee Vance

A Pure Digital Technologies pensou pequeno e simples, e isso lhe valeu muito dinheiro. A pequena empresa criada oito anos atrás e famosa por suas câmeras de vídeo Flip, baratas e fáceis de usar, derrotou a recessão econômica. Na quinta-feira, a companhia de 100 funcionários foi adquirida pela Cisco Systems, gigante da infra-estrutura tecnológica, por US$ 590 milhões em ações.

O acordo coroa a ascensão acidentada e imprevisível da Pure Digital, que superou as empresas asiáticas que dominam o setor de câmeras, sem abandonar sua modesta sede em um escritório localizado sobre a Gump's, uma loja de departamentos no centro de San Francisco. "Em um momento no qual todo mundo só conta histórias de sofrimento, esse é um exemplo fabuloso daquilo que se pode realizar contrariando todas as probabilidades", diz Michael Moritz, especialista em capital para empreendimentos da Sequoia Capital, que investiu na Pure Digital.

Nos dois últimos anos, a Cisco está se expandindo para além da venda de equipamento de rede para grandes centrais de processamento de dados, e avançou no mercado doméstico de decodificadores, roteadores e - mais recentemente - aparelhos de som. A empresa deixou claro que pretende reforçar essas atividades ao direcionar boa parte de sua reserva de caixa de US$ 34 bilhões a aquisições.

Na Pure Digital, a Cisco descobriu o talento local que complementa suas ambições de avanço no setor de bens de consumo e na extensão de sua tecnologia de videoconferência a aparelhos portáteis.

A Pure Digital começou a vender a linha Flip de produtos em 2007, e desde então embarcou mais de dois milhões de unidades, a preços de entre US$ 150 e US$ 230, a depender do modelo. O motivo da fama do produto é seu minimalismo.

As câmeras de vídeo Flip têm poucos botões, pesam pouco e suas telas têm apenas 1,5 polegada. Além disso, vêm sem cabos, e dependem de um conector incorporado que pode ser acoplado à porta USB de um computador tanto para recarregar o aparelho quanto para a transferência de arquivos em vídeo.

Além da câmera, a Pure Digital oferece software que ajuda a transferir vídeos de um computador pessoal para serviços como o YouTube e o Facebook, com um ou dois comandos. O software simples, design simples e baixo custo ajudaram a levar a câmera de vídeo a pessoas que não apreciam aparelhos mais complexos mas ainda assim gostam de gravar e distribuir seus vídeos.

"Eles conseguiram aproveitar a oportunidade de atingir consumidores que tradicionalmente evitam as câmeras de vídeo", disse Ross Rubin, analista do NPD group.

Ao longo dos últimos anos, as vendas de câmeras digitais de vídeo se mantiveram estagnadas ou caíram, de acordo com Rubin. Enquanto isso, a Pure Digital triplicava as vendas dos produtos Flip no ano passado, e hoje detém cerca de um quinto do mercado. A Sony, líder na venda de câmeras de vídeo, começou a imitar os produtos da Pure Digital, e muitas outras empresas fizeram o mesmo.

O design sem firulas da Flip mudou a trajetória da Pure Digital. "Nós saímos do vermelho no dia em que lançamos a Flip", diz Jonathan Kaplan, o presidente da empresa.

A Pure Digital foi criada para vender câmeras fotográficas digitais descartáveis. Os consumidores pagavam pela câmera e a devolviam ao ponto de venda para obter cópias impressas das fotos. Inicialmente, a idéia funcionou. Mas, à medida que as câmeras digitais não descartáveis baixavam de preço, as vendas da Pure Digital despencavam.

Depois, a companhia decidiu produzir câmeras digitais de vídeo descartáveis, distribuídas da mesma maneira. Os clientes retornavam com as câmeras ao ponto de venda, e recebiam as imagens gravadas transformadas em um DVD. Mas a empresa ainda estava à procura de um grande sucesso ¿ e para consegui-lo contou com a ajuda dos seus parceiros de varejo e, surpreendentemente, de hackers.

Os hackers removiam o chip de memória das câmeras descartáveis de vídeo, para que pudessem exibir vídeos em seus computadores. E os pontos de venda pediram que a Pure Digital limitasse os acessórios que acompanhavam as câmeras, o que resultou na criação do conector de USB incorporado.

Isso tudo resultou na idéia de uma câmera de vídeo digital barata e fácil de usar, com a capacidade de gravar e transferir vídeos do aparelho para computadores e sites. Desde então, a companhia vem mantendo essa abordagem simples, e está trabalhando para tornar seus produtos mais atraentes por meio de designs mais coloridos e de vídeos de melhor qualidade.

Os recursos consideráveis da Cisco poderiam ajudar a Flip, que até o momento vem operando com investimentos de cerca de US$ 70 milhões, a conquistar o sucesso em outros mercados além dos Estados Unidos e do Reino Unido, diz Moritz. "É preciso ampliar o estoque a fim de atender à demanda em muitos países, e isso é uma medida bastante dispendiosa", afirma.

Produtos ao consumidor como esses são novidade na Cisco. Mas a empresa já conhece o trabalho da Pure Digital, porque a família de John Chambers, seu presidente-executivo, tem oito câmeras Flip, e os executivos do grupo muitas vezes postam seus vídeos em uma espécie de YouTube interno da empresa.

No futuro, a expectativa é de que a Cisco lance versões da Flip dotadas de conexão sem fio. E Kaplan diz que há novas surpresas por vir. "A Flip certamente encontrará seu caminho para alguns lugares muito óbvios, e talvez para alguns menos óbvios", ele disse.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

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